Em um momento tenso da história coreana, o país ficou sob o controle direto de outra nação, quando sua cultura e identidade foram altamente transformadas.
Após a Era Meiji, na metade final do século XIX e início do século XX, o Japão conhece o seu processo de expansão imperialista, que ganha ainda mais notoriedade após vitórias na Guerra Sino-Japonesa, Guerra Russo-Japonesa e durante seu projeto expansionista antes e durante a Segunda Guerra Mundial, onde obteve vários territórios na China, Coreia, Indochina e Pacífico.
Em 1905, na sequência da Guerra Russo-Japonesa, o governo japonês declarou unilateralmente que a Coreia seria, doravante, um protetorado japonês, inclusive em um acordo com os Estados Unidos, conhecido como Acordo Taft-Katsura. Nesse documento, os EUA concordaram com a colonização japonesa da Coreia em troca da ocupação americana do Havaí (que os EUA anexaram em 1898) e as Filipinas (que os EUA haviam adquirido em um saque em 1898, no final da guerra hispano-americano). Os coreanos não foram consultados sobre esse acordo.
Em agosto de 1910, esse status foi alterado, e a Coreia tornou-se uma colônia formal do império japonês. Esta foi a primeira vez na longa história da Coreia em que o país e seu povo foram subjugados sob um regime colonial. O que tornou esta situação ainda mais irritante era o fato de que, historicamente, o povo coreano sempre se considerava mentor da cultura japonesa.
Durante 40 anos, a península coreana esteve sob domínio do Império Japonês.
O domínio japonês foi brutal: estima-se que pelo menos 18 mil coreanos foram mortos por resistirem à ocupação. Os coreanos foram forçados a ter nomes japoneses e a falar apenas japonês, os rapazes coreanos foram forçados a servir nas forças armadas e enviados ao Japão para trabalhar por salários de escravos, e dezenas de milhares de mulheres coreanas foram forçadas à escravidão sexual, para o prazer dos homens japoneses.
A maioria da população coreana foi reduzida a um estado de empobrecimento e analfabetismo. O Japão governou a Coreia através do escritório de um Governador-Geral, que geralmente era um militar do exército ou da marinha japonesa. Durante a primeira etapa da ocupação (1910-1919), os coreanos foram controlados por um sistema dramático de guarda-policial fronteiriça, uma força militar que controlava a política e que os privou de muitas liberdades civis básicas.
Durante a segunda fase do domínio colonial (1919-1932), o Governo-Geral permitiu ao povo coreano um grau de liberdade de expressão e de reunião. No início da década de 1920, por exemplo, três jornais coreanos foram publicados em língua nacional e, em 1927, um partido político coreano composto de nacionalistas de direita e de esquerda, o Sin’ganhoe (New Korea Society), foi estabelecido.
A terceira fase do governo japonês (1932-1945) viu um retorno da regra draconiana à Coreia uma vez que os japoneses exploraram implacavelmente a mão-de-obra coreana e os recursos para apoiar seus esforços de guerra na Manchúria (depois de 1932), China continental (depois de 1937) e o Pacífico (depois de 1941). O povo coreano foi forçado a parar de usar seu próprio idioma, adotando nomes japoneses e adorando nos santuários xintoístas. No final, no entanto, tais medidas implacáveis serviram apenas como incentivo adicional à população coreana e para alimentar o fervor nacionalista.
Para um certo suspiro de alegria aos coreanos, o Eixo vinha perdendo território tanto com os nazistas (Europa e norte da África), quanto com os japoneses no extremo oriente, aos poucos tropas estadunidenses foram retomando territórios antes ocupados por japoneses como a própria Coreia e a região da Manchúria.
Durante a ocupação japonesa, o que se viu foi um regime de crueldade e imposição sobre a população coreana.
Não surpreendentemente, quando o Japão se rendeu aos EUA e seus aliados em 15 de agosto de 1945, os coreanos ficaram entusiasmados com essa aparente libertação da opressão japonesa. Eles estavam prontos e dispostos a formar seu próprio governo: o Comitê para a Preparação da Independência Coreana (CPIC), formado rapidamente, organizou comitês populares em todo o país para coordenar a transição para a independência. Em 28 de agosto de 1945, o CPIC anunciou que funcionaria como o governo nacional temporário da Coreia. Em 6 de setembro, delegados de toda a Coreia, tanto ao norte quanto ao sul da linha de demarcação artificialmente imposta, se reuniram em Seul para criar a República Popular da Coreia. Coincidentemente, o anúncio dos coreanos de sua independência unificada ocorreu apenas quatro dias após a declaração de independência unificada de Ho Chi Minh para todo o Vietnã.
Mas os Estados Unidos tinham um plano diferente para a Coreia. Na conferência de fevereiro de 1945 em Yalta, o presidente Roosevelt sugeriu a Stalin, sem consultar os coreanos, que a Coreia fosse colocada sob tutela conjunta após a guerra antes de obter sua independência. Em 11 de agosto, dois dias depois que a segunda bomba atômica foi lançada, garantindo assim a iminente rendição do Japão, e três dias depois que forças russas entraram na Manchúria e na Coreia para expulsar os japoneses como foi acordado para evitar mais baixas dos EUA, Truman apressadamente ordenou ao seu Departamento de Guerra que escolhesse uma linha divisória para a Coreia. Dois jovens coronéis receberam 30 minutos para resolver o problema. O paralelo 38 foi rapidamente escolhido. Surpreendentemente, Stalin concordou com essa partição “temporária”.
A partir dali o que vai desencadear-se vai ser uma separação de um povo que após 40 anos de domínio cruel japonês vai dar início a uma nova disputa entre duas grandes potências que saíram fortificadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. E isso aliada a recente Revolução Chinesa em 1949, formariam os ingredientes da Guerra da Coreia (1950-1953). Guerra esta que oficialmente não teve fim até os dias atuais, apenas a assinatura do armistício em 1953.
Referências Bibliográficas:
MARTINS, Charles. A Ocupação da Coreia pelo Japão. Disponível em: https://www.koreapost.com.br/conheca-a-coreia/historia/a-ocupacao-da-coreia-pelo-japao-historia/. Acesso em: 19/11/2020.
VISALLI, Dana (Trad. Igor Galvão). Coreia: um pouco de história explica tudo. Revista Ópera. Disponível em: https://revistaopera.com.br/2019/10/04/coreia-um-pouco-de-historia-explica-tudo/. Acesso em: 19/11/2020.
Por Sérgio Amaral, historiador e host do Podcast História e Sociedade.
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