Criada no início do século XX, a FIFA tinha como objetivo reunir selecionados para torneios entre os mesmos. Com Jules Rimet, ela começa a crescer a ponto de em 1930, ter o primeiro campeonato mundial de futebol realizado no Uruguai, então bicampeão olímpico na modalidade.
Na passagem do século XX, aumentam o número de partidas disputadas entre equipes representantes dos diferentes países europeus praticantes de futebol, mesmo fora da FA (Football Association), entidade fundada em 1863, que regulamentava as disputas ocorridas entre equipes da Grã-Bretanha.
A FIFA, hoje a instituição mais poderosa do futebol mundial, foi criada após uma reunião no dia 21 de maio de 1904 em Paris, com a participação de apenas sete associações: França, Espanha, Bélgica, Suíça, Holanda, Dinamarca e Suécia, sendo que 105 anos depois são 209 filiadas, com um cálculo de que aproximadamente 260 milhões de pessoas no mundo trabalham atualmente envolvidas com o esporte.
Em 1905 em um Congresso em Paris os quadros da FIFA já haviam aumentado com a entrada da Alemanha, Áustria, Inglaterra, Itália e Hungria e o projeto para a realização de um campeonato mundial de seleções parecia uma realidade plausível para o ano seguinte. Nesta reunião chegou-se a estabelecer um regulamento e uma divisão de grupos onde o campeão de cada chave passaria para as semifinais e a final, que seriam disputadas na Suíça, país que se colocou como voluntária para sediar esta fase.
O fiasco da tentativa da Copa de 1906 acabou adiando o sonho de uma competição de seleções organizada pela FIFA e logo na década seguinte a eclosão da primeira Guerra Mundial dificultou ainda mais o florescimento de um torneio internacional.
Após o período bélico, representantes das Associações dos aliados reuniram-se em 1919 na cidade de Bruxelas sob a organização da Federação belga buscando retomar as atividades, porém os resquícios das batalhas eram sentidos dentro da própria instituição. Alguns delegados aliados recusavam-se a receber os ex-inimigos que foram excluídos deste primeiro encontro pós-grande guerra e outras Federações queriam vetar inclusive os países que se mantiveram neutros durante o conflito. Segundo Rimet o renascimento da Federação estava comprometido.
Um ano depois foi realizada nova Conferência na cidade de Anvers, em virtude da realização dos Jogos Olímpicos de 1920. Representantes de 17 países aliados e neutros participaram. A principal ausência foi da Inglaterra que defendia a posição mais radical de exclusão das Federações de países que permaneceram neutros durante a guerra. Neste encontro, além de ter sido abandonada a ideia de reconhecer o torneio Olímpico como Campeonato mundial de futebol, houve a eleição de Jules Rimet para presidência da Federação.
Jules Rimet e a taça da Copa do Mundo que foi rebatizada com seu nome posteriormente.
O francês permaneceu 35 anos à frente da entidade, tendo sido de extrema importância para a continuação da luta pela realização de um Campeonato de seleções organizado pela FIFA, além de um dos principais articuladores do torneio uruguaio de 1930 e colaborador para o crescimento do futebol mundial após a concretização de um sonho projetado desde 1905 pelas primeiras Associações filiadas.
Apesar dos torneios de futebol dos Jogos Olímpicos não terem sido reconhecidos pela FIFA como esfera de legitimação de campeões mundiais, as competições de 1924 em Colombes na França e 1928 em Amsterdam, além de terem sido muito disputadas, foram fundamentais para o surgimento no cenário internacional do futebol sul-americano, especialmente do bicampeão olímpico Uruguai.
Em 1927 em um Congresso da FIFA realizado em Zurique, o assunto da realização de um campeonato mundial de seleções volta novamente a pauta e três diferentes proposições são apresentadas e segundo Rimet esta teria sido a primeira vez que primeira vez o termo Copa do Mundo aparece em um documento oficial da instituição.
A primeira proposta é similar ao modelo utilizado a partir de 1930, pois refere-se à organização de um torneio a cada quatro anos, sendo que os ganhadores dos grupos europeus e sul-americanos, assim como representantes de outras zonas geográficas que se formassem, disputariam a fase final. A segunda estabelecia a disputa de Copas Europeias a cada dois anos e de um torneio mundial no período de quatro anos, disputada em sistema de eliminatórias por todas as Associações filiadas, não dividindo as eliminatórias, a princípio, em zonas geográficas. Certamente a mais curiosa das três, que era emblemática da discussão amadorismo versus profissionalismo na década, apresentava a ideia de organização de dois torneios mundiais, um para equipes amadoras realizadas a cada quatro anos, possivelmente seguindo o calendário olímpico, e a outra para profissionais a ser realizada com intervalo de dois anos.
A decisão foi tomada num Congresso realizado em Zurique definiu uma copa aberta tanto para amadores quanto para profissionais e sendo realizada de quatro em quatro anos, modelo que, tirando o caso dos atletas amadores, é seguido até os dias atuais.
Em Barcelona, apenas um ano antes da data previamente estabelecida para a realização da primeira Copa do Mundo (1930), primeiramente foi definido que todos os encargos da organização ficariam a critério do país organizador, inclusive os gastos com deslocamento e hospedagem dos membros da Comissão organizadora, árbitros e equipes. Enfim, as Associações da Hungria, Itália, Holanda, Espanha e Suécia e Uruguai, representado por Enrique Buero, apresentaram as respectivas candidaturas, entretanto aos poucos os países europeus foram desistindo em favor da proposta uruguaia.
As obrigações assumidas pela Associação Uruguaia no Congresso de Barcelona para realizar a primeira Copa do Mundo eram grandes. Todos os gastos de transporte, alojamento e alimentação das delegações e dos membros da FIFA, com um número de 17 representantes que acabou variando em alguns casos para 20 por equipe, ficariam a cargo dos uruguaios. Mesmo o eventual transporte de trem para uma cidade portuária onde os europeus embarcariam para a travessia do Atlântico teria que ser coberto pela organização do evento. Ademais a imposição de construção de um Estádio para 100.000 pessoas faltando apenas um ano para a realização do evento parecia também demasiada. Naquele momento os maiores estádios uruguaios tinham capacidade de 30.000 pessoas, no caso do Estádio Central do Nacional e 20.000 no campo do Peñarol.
Além desses problemas, os países europeus passaram a alegar obstáculos e impedimentos para disputarem o torneio como a distância e o período no qual muitos atletas teriam que se ausentar dos seus trabalhos e da família. No início de 1930 as perspectivas eram péssimas. A tendência é que nenhuma seleção europeia participasse do torneio. O risco do campeonato transformar-se em um grande campeonato sul-americano era enorme.
Imagem da partida final da Copa de 1930 entre Uruguai e Argentina.
É importante destacar que a Copa do Mundo do Uruguai, foi realizada um ano após a grande crise do sistema capitalista de 1929. O mundo inteiro enfrentava a crise de superprodução/subconsumo e obviamente as graves dificuldades financeiras impediram que diversas delegações aceitassem o convite para participarem do torneio, mesmo com as verbas concedidas pelos uruguaios, acordadas através do Congresso de Barcelona e devidamente pagas pelas autoridades uruguaias.
Após muita negociação e alguns insucessos na Europa, quatro países aceitaram o convite de disputar a competição no Uruguai: França, Bélgica, Romênia e Iugoslávia. Junto a eles estavam sete países da América do Sul (Uruguai, Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia e Peru) e dois da América do Norte (Estados Unidos e México). Com esses 13 países, ocorreu a primeira Copa do Mundo de Futebol em julho de 1930, tendo o Uruguai como campeão após vencer a Argentina por 4x2 na partida final.
Referências Bibliográficas:
AGOSTINO, G. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: FAPERJ/MAUAD, 2002.
PEREIRA DO CABO, A.V.G.T. O estabelecimento da FIFA e a realização da primeira Copa do Mundo de futebol no Uruguai. – Uma visão oficial a partir de Jules Rimet. Artigo apresentado no XXVII Simpósio Anual de História - ANPUH em 2013. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364774421_ARQUIVO_OestabelecimentodaFIFAedaprimeiraCopadoMundoapartirdeJulesRimet.pdf . Acesso em: 11/01/2021.
JÚNIOR, D. Futebol & copas: Uma aula de história. São Paulo: Gregory, 2019.
Por Sérgio Amaral, historiador e host do Podcast História e Sociedade.
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