Quando em 1750 o rei de Portugal, D. José I, escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo - conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal - para ocupar o cargo de primeiro-ministro, começava ali uma nova fase da história do Brasil. Pombal ficou conhecido pelo conjunto de reformas realizadas tanto na metrópole como nas colônias portuguesas. Sua posse como secretário de Estado do Reino de Portugal ocorreu em meio à crise do Antigo Regime e à emergência do Iluminismo.
Na Europa, vários países - entre eles, Portugal - passaram a combinar elementos do período absolutista, como o fortalecimento do poder real, por exemplo, com reformas que buscavam diminuir as diferenças sócio-econômicas em relação a outros Estados, como França e Inglaterra, principalmente. Foi o chamado "despotismo esclarecido" ou "absolutismo iluminado".
Frente à propagação e fortalecimento dos ideais iluministas, muitas monarquias absolutistas passaram por um processo de relativa modernização. Por um lado, buscavam manter a centralização política em torno dos governantes, mas agora adotando determinadas medidas iluministas, como o aumento dos investimentos em ensino público e o incentivo às manufaturas nacionais.
Marquês de Pombal, representante do rei português D. José I, pode ser citado como um desses déspotas iluminados. Sua política para a América Portuguesa, por exemplo, comportou medidas centralizadoras (como a ampliação do aparelho fiscalizador tributário colonial), mas também ações “esclarecidas”, como a expulsão da ordem jesuítica do Brasil, que representa em certa medida a laicização da Coroa lusitana.
Apesar da sua importância, o marquês de Pombal nem sempre foi bem visto pela Coroa portuguesa. Nascido em Lisboa, no dia 13 de maio de 1699, Pombal foi nomeado para seu primeiro cargo público aos 39 anos: seria embaixador de Portugal em Londres. Pouco depois da morte da sua primeira mulher, em 1737, Pombal casou-se novamente. Dessa vez, com a condessa Maria Leonor Ernestina Daun, filha do marechal austríaco Leopold von Daun - comandante militar da Áustria na Guerra dos Sete Anos.
Marquês de Pombal, um exemplo do despotismo esclarecido em terras brasileiras.
O casamento fora arranjado pela rainha de Portugal, a também austríaca D. Maria Ana Josefa de Áustria, amiga íntima da condessa. Assim, com a morte do rei D. João V, a rainha-mãe interveio a favor de Pombal junto a seu filho, D. José I, sucessor do trono. Com a coroação de D. José, em 1750, o marquês de Pombal foi nomeado secretário de Estado do Reino de Portugal.
Ao tomar posse no cargo de primeiro-ministro, Pombal assumiu não apenas a administração do Estado português, mas também das suas colônias, incluindo o Brasil. Daí porque a era pombalina, como ficaram conhecidos os quase 30 anos em que esteve à frente da Secretaria de Estado do Reino, repercutiu de maneira decisiva sobre o destino brasileiro.
Àquela altura, já havia ficado evidente para a Coroa portuguesa a importância da sua colônia na América. Afinal, em meados do século 18, o Brasil já tinha mais peso econômico e demográfico que a própria metrópole. Por isso, as reformas de Pombal, que na Europa tiveram o objetivo de equiparar Portugal às demais potências do Velho Continente, no Brasil visaram a racionalizar o processo de produção e envio de riquezas para a metrópole.
As reformas, portanto, não apenas mantiveram o monopólio comercial entre Portugal e Brasil como também aprofundaram a dominação metropolitana. Sob o ponto de vista administrativo, as mudanças começaram com a extinção do antigo sistema de capitanias hereditárias. Quatro anos depois, a própria capital foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro - deixando clara a preponderância econômica da região centro-sul sobre o Norte e o Nordeste.
Para aumentar a exploração de riquezas, foram criadas duas companhias de comércio, na tentativa de incrementar a produção naquelas regiões: a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba. Ao mesmo tempo, Pombal intensificou a fiscalização sobre a exploração do ouro em Minas Gerais, numa conjuntura de crise no setor aurífero.
Por fim, outra importante reforma realizada pelo marquês de Pombal foi a expulsão dos jesuítas do Brasil, como extensão da medida tomada também em Portugal. O objetivo foi não apenas confiscar as propriedades da Igreja como também, no caso da colônia, aprofundar o controle político-econômico nas regiões administradas pelos jesuítas. À expulsão seguiu-se uma profunda reforma educacional, até então sob responsabilidade da Igreja.
Uma das medidas tomadas por Pombal foi a expulsão dos jesuítas do Brasil.
De um lado, a medida tomada por Pombal fundamentou-se na secularização do Estado português, numa clara influência iluminista. De outro, era parte de um conjunto de outras decisões, como a abolição da escravidão indígena, em 1757, e o fim da perseguição aos chamados "cristãos-novos", em 1773. Diante dessas reformas, os jesuítas pareciam representar o que havia de mais atrasado, aquilo que precisava ser modernizado, reformado - ainda que de maneira limitada. Em síntese, todos esses fatores explicam o motivo da sua expulsão.
A queda do Marquês de Pombal tem início após a morte do rei D. José I, em 1777, quando D. Maria I o afasta do poder. A soberana lhe tira todos os cargos e reabilita a família Távora postumamente. Os membros que haviam sido confinados a conventos puderam voltar à vida civil. D. Maria o declara culpado por diversos crimes, dentre eles, peculato e abuso de poder, para os quais a pena era o exílio. No entanto, levando em conta a sua idade, a rainha permite que ele permaneça em sua casa, onde morre cinco anos depois.
Referências Bibliográficas:
ESTEVES PEREIRA, J., O Pensamento Político em Portugal no Século XVIII. António Ribeiro dos Santos, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2005.
MAXWELL, K., O Marquês de Pombal. Editorial Presença, Lisboa, 2001.
MARTINS JÚNIOR, L.A., Iluminismo e Despotismo Esclarecido. Matéria publicada na coluna "educação" do site globo.com. Disponível em: http://educacao.globo.com/historia/assunto/europa-em-transformacao/iluminismo-e-despotismo-esclarecido.html. Acesso em 21/06/2020.
RAMOS, R. (coord.); História de Portugal. Esfera dos Livros, Lisboa, 2009.
Por Sérgio Amaral, historiador e host do Podcast História e Sociedade.
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Grande Português, um dos maiores de sempre... Defensor intransigente dos interesses e do poder do país..., e só isso realmente é relevante.