top of page
Foto do escritorSérgio Amaral

A língua portuguesa pelo mundo: da origem até sua expansão com as grandes navegações.

Atualizado: 20 de ago. de 2021

A língua portuguesa hoje é oficial em nove países – Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Guiné Equatorial (este adotou recentemente, mas também mantém o espanhol como idioma oficial). Além disso, é falada em Goa, Damão, Diu e Macau – os três primeiros na Índia e o último na China. Como esse idioma chegou a tantas localidades pelo mundo?


Assim como o galego, o espanhol, o francês, o italiano, o catalão, o romeno, o sardo, o provençal e o rético, o português é uma língua proveniente da expansão do latim pela Europa. A língua latina expandiu-se a partir da segunda Guerra Púnica – entre Roma e Cartago – em 218 a.C. Durante o processo de expansão e queda do Império Romano, os falantes do latim tiveram contato com outros povos e, consequentemente, com outras línguas.


A transformação do latim em língua portuguesa se deu por consequência de conflitos e transformações político-histórico-geográficas desse povo. Isso aconteceu por volta do século III a.C., quando os romanos ocuparam a Península Ibérica através de conquistas militares e impuseram aos vencidos seus hábitos, suas instituições, seus padrões de vida e, principalmente, sua língua, que reflete a cultura.


Existiam duas modalidades do latim: o latim vulgar e o latim clássico. O vulgar, de vocabulário reduzido, falado por aqueles que encaravam a vida fazendo uso de uma linguagem sem preocupações estilísticas na fala e na escrita, dotado de variação linguística notável, uma vez que era uma modalidade somente falada, sendo, pois, suscetível a frequentes alterações. Já o latim clássico caracterizava-se pela erudição da oralidade e das produções textuais de pessoas ilustres da sociedade e de escritores, sendo uma linguagem complexa e elitizada. Das duas modalidades existentes, a que era imposta aos povos vencidos era a vulgar, pois essa fora a língua predominante dos povos navegantes que exploravam novas terras para novas conquistas.


Decorridos alguns séculos, o latim predominou sobre as línguas e dialetos falados em várias regiões. Dessa maneira, formaram-se diversas línguas dentro da região de domínio de Roma, ou seja, do Império Romano, onde se originaram as línguas românicas, também chamadas de neolatinas, (diz-se românicas todas as línguas que têm sua origem no latim e que ocupam parte do território conquistado pelos romanos), das quais nossa língua portuguesa é oriunda.


Com o declínio e queda do Império Romano do Ocidente, a Península Ibérica foi invadida por povos germânicos (vândalos, suevos, alanos, visigodos) de 409 a 711, quando daí aconteceu a invasão mulçumana e com ela, a chegada da língua árabe. A reconquista do território português só aconteceu em 1249, data da retomada de Faro. Deste processo de conquistas e reconquistas nasceram três línguas: o galego-português, o castelhano e o catalão.

Região da Galícia ou Galiza, hoje parte da Espanha, onde surgiu o galego-português.


Na faixa onde hoje está a Galícia, surgiu o galego-português. Com o processo de reconquista do território português, essa língua estendeu-se até o sul para a região que hoje chamamos de Portugal. O galego-português permaneceu, durante a Idade Média, como idioma que mantinha a unidade linguística entre Portugal e a Galiza.


Já em 1500, durante a Expansão Marítima dos povos ibéricos, Pedro Álvares Cabral chega à terra que virá a ser a grande colônia portuguesa: o Brasil. A motivação principal do movimento de expansão territorial de Portugal era também o alargamento da rede de relações comerciais, de certo modo, com uma tradição mediterrânea já conhecida. Como as relações comerciais implicam relações culturais, estas supõem intercâmbio linguístico.


É dessa fase inicial do século XVI o significativo contingente vocabular importado de línguas asiáticas como: “jangada”, “canja”, “pijama”, “biombo”; de línguas africanas: “banana”, “girafa”, “missanga”. No Brasil, o tupi-guarani, legou ao português milhares de palavras ainda hoje em pleno uso nos dois lados do Atlântico.


O intercurso comercial e a ação evangelizadora fazem do português uma espécie de símbolo da cultura cristã, tanto que passa a funcionar como língua franca de marinheiros, mercadores, missionários europeus e não europeus. E Lisboa, capital desse importante centro de convergência comercial, que é Portugal, desponta também como centro difusor de vocabulário asiático, africano e americano, considerado, pela novidade, vocabulário exótico ou de línguas exóticas.


Essa agitação cultural e linguística vai possibilitar a elaboração de “cartilhas para aprender a ler e a escrever” e confecções de extensas listas de vocábulos para orientar o seu uso, sem falar no envio às terras recém descobertas de livros e mestres com o objetivo de afirmação cultural e de exaltação e orgulho nacionalista. O resultado desse esforço cultural e linguístico não só traduzirá na substituição de línguas autóctones pelo português, mas também no surgimento de novas línguas como os “crioulos” e na introdução de vocábulos portugueses em várias outras línguas.


Diante de todo esse estado de renovação política, econômica e cultural é que surgem as duas primeiras gramáticas da língua portuguesa: a “Gramática da linguagem portuguesa”, em 1536, de Fernão de Oliveira, considerada pelo próprio autor “a primeira anotação da língua portuguesa”, e a “Gramática Portuguesa”, em 1539-40, de João de Barros, também reconhecido pelo seu autor como a “segunda” obra gramatical do português. Daí para frente, seguem-se diversos tratados de natureza gramatical como “cartilhas”, “diálogos em louvor do português” e obras que versam sobre as origens da língua portuguesa, a questão da ortografia, ao lado de dicionários e preceitos que visavam ao uso regular do português corrente da época.

Rotas comerciais portuguesas durante o século XVI e que levariam a expansão do idioma para várias regiões do mundo.


À medida que avança o século XVI, somam-se aos interesses comerciais motivações religiosas aliadas à difusão cultural e linguística como preocupações indispensáveis à política de expansão portuguesa. Nessa trajetória de conquistas, intensificam-se os contatos com falantes de etnias variadas nos mais diversos pontos do mundo. Os portugueses descobrem novas terras, novas línguas, novas realidades: animais, plantas, frutos que eram trazidos para o reino e, naturalmente, com esses novos produtos chegam também suas designações novas e originais, favorecendo, assim, à ampliação do acervo léxico da língua portuguesa.

As Grandes Navegações e a constituição de colônias portuguesa na América, África e Ásia contribuíram para a expansão da língua. Juntos, os países lusófonos têm mais de 250 milhões de falantes. A língua portuguesa, levada pelos colonizadores a cada um desses lugares, sofreu mudanças em contato com as línguas locais. No Brasil, ela entrou em contato com as diversas línguas indígenas, as línguas africanas de ramo banto, as línguas de imigração e as de fronteira. Atualmente, o português é a sexta língua mais falada no mundo. Além disso, o idioma de Camões e Machado de Assis é a terceira língua de origem europeia mais falada no planeta, atrás apenas do inglês e espanhol. Embora o Brasil seja o único país de fala portuguesa nas Américas, o idioma é a língua materna de aproximadamente 50% da população da América do Sul. As antigas colônias de Portugal na África também continuam a utilizar o português como língua oficial.


O português é a lingual oficial das seguintes nações: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Macau (língua oficial juntamente com o cantonês, também conhecido como chinês tradicional), Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste (língua oficial juntamente com o Tétum). Essas nações compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), formada para difundir a língua e promover a cooperação entre os países falantes do português. Para tentar unificar a língua, em 1990, foi assinado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O documento passou a valer no Brasil em 2009 e tornou-se obrigatório para todos em janeiro de 2016.


Também há um número significativo de comunidades de falantes do português em várias regiões dos Estados Unidos e Canadá, assim como na Argentina, França e Japão.


Referências Bibliográficas:


CÂMARA JR, J. M. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.


HAUY, A. B. História da língua portuguesa I – Séculos XII, XIII e XIV. São Paulo: Ática, 1989.


PAIVA, D. F. História da língua portuguesa II – Século XV e meados do século XVI. São Paulo: Ática, 1988.


Por Sérgio Amaral, historiador e host do Podcast História e Sociedade.


Quer saber mais sobre A História da Língua Portuguesa? Então não perca o episódio número 35 do Podcast História e Sociedade sobre esse tema. Para escutar, dê o play no tocador abaixo!

Agora o podcast também está disponível no YouTube. Para acessar clique aqui!


Para saber mais sobre histórias como esta, não deixe de seguir o Podcast História e Sociedade, através de sua plataforma de podcast preferida ou pelo nosso site www.historiaesociedade.com, na seção Ouvir os Episódios. Siga-nos também no Instagram, no Facebook e no Twitter.

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page